segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Cássia

Por algumas horas madrugada adentro, me perdi entre alguns pensamentos deconexos e as palavras que minha mente insistia em juntar ao seu respeito. 

De algo eu tinha certeza; eu não sabia como descrever aquela garota, agora, mulher. 

Os anos passaram, alguns meses despercebidos, era certo. 

Muita coisa havia mudado. 

Tudo sobre sua aura, que continuava a mesma, mas era diferente em alguns aspectos. 

Se eu tivesse que tecer um personagem, em base do que conhecia de Cássia, ou no que via, ouvia ou até mesmo sentia... 

Pouco se pareceria com a atual realidade, e isso não seria nem de longe algo sensato. 

A verdade é que eu a via, na essência do frevo, da folia, até nas bebidas típicas do estado. 

Cássia era Pernambuco, em todos os sentidos. 

Sabia ser caótica, cultural.

Tinha lá os seus segredos, mistérios, fantasma em gavetas, como qualquer folião em meio ao carnaval. 

Mas ela era diferente. 

Até mesmo em ser comum. 

Era curioso como conseguiu se encaixar em uma vida normal, rotineira, e mesmo assim ser diferente das demais. 

Se eu realmente fosse escrever sobre Cássia, seria algo como uma composição do Alceu, com um pouco de SOAD. 

As vezes eu me confudia. Seria ela a Belle de Jour, ou a Belle de Jour era ela? 

Eu não sabia dizer, de verdade. 

Eu nunca escrevi sobre Cássia, e nunca irei escrever. 

Mas se um dia acontecer, talvez eu fale do maracatu, ou do coco de roda... Dos eventos underground em que nos encontravamos, quem sabe. 

Escreveria sobre sua naturalidade em falar da erva, das plantas e planaltos, do seu engajamento em projetos sociais... Do quanto seus cachos combinam com as cores de flores de pampolas, ou do quanto eu acho que girassol é a sua flor... E amarelo é sua cor. 

( Aura dourada, sempre teve ) 

Aquele tipo de pessoa cativante, que te lembra a raposa do pequeno príncipe, mas tem um sorriso imenso, que te lembra do gato da alice...

sem todo aquele lance psicodélico. 

De olhar tão doce, ao mesmo tempo que era sério...

Também é aquele tipo de mulher que eu costumo dizer que tem o "olhar de Capitu", mas nela também há um pouco de Gabriela.

Isso porque ainda não mencionei o sol na praia, e seu cheiro de sombra abaixo de cajueiro. 

Seu abraço faceiro, como uma conversa descontraída na calçada de uma viela.

Há tantas outras coisas que eu poderia escrever, mas não sei se me sobraria papel para qualquer outra coisa que eu fosse fazer. 

Talvez, se um dia eu realmente for escrever sobre Cássia, temo que eu tenha que passar numa papelaria antes. 

Anotaria também o que meus amigos do outro lado falavam, e falam. Seriam tantas coisas, tantas palavras...

Seja por isso, ou por qualquer outro motivo, eu não me atrevo a escrever sobre Cássia. 



O maior filha da puta de todos

Todos sabem o meu nome, mas poucos me conhecem verdadeiramente.

A verdade é que costumam me idealizar, na maioria das vezes.

Me pintam como calmo, sublime, atencioso, doce... E até mesmo curandeiro. 

Vê se pode? 

Logo eu... 

Eu posso até ser doce, ou atencioso, mas isto apenas nos primeiros encontros quando me conhecem superficialmente. 

Mas aqui lhes digo o que não lhes disseram sobre mim. 


Eu sou cruel, rancoroso, e persigo quem insiste em me negar. 


Em algum momento de sua vida eu vou ser como todo um caos, como uma tempestade em um pote de vidro. 

Eu vou te perseguir, onde quer que você vá, e não vai existir um lugar no mundo onde você possa se esconder. 

E eu vou quebrar você, em pequenos pedacinhos, ao ponto que você se corte em cada um deles enquanto tenta remontar a si mesmo. 

Porque eu sou assim. 

Eu sou devastador, avassalador. 

E não tem como fugir de mim. 

Eu vou te acelerar o coração, fazer com que seu sangue corra rápido nas veias, vou nublar seus pensamentos enquanto ponho todo o seu mundo de ponta cabeça! 

E se acaso você não souber cuidar bem de mim...

Vou te fazer chorar pela perca, por algo que nunca mais poderá ter! 

Porque sou vingativo.

Vou torturar você, todos os dias, com a dor de uma eterna saudade, que nunca passa, que nunca para, que nunca supera... 

Te ensinarei da pior forma, que não se deve deixar a sua pessoa passar por você... Que não se deve deixa-la no meio do caminho. 

Quando se encontra seu alguém, o leva consigo. Pelo que resto das suas medíocres vidas, - que acaba se tornando menos mediocres enquanto tiver minha benção - ... ou carregue consigo apenas a memória.

E as memórias, meu caro... Também é uma das minhas armas de torturas. 

E eu sou muito bom nisso... Torturar pessoas.

E elas são masoquistas, gostam da dor que eu causo. 

Mas também sei ser benevolente, sei ser piodoso. 

Não culpo as pessoas por me confudirem e acharem que eu resido em alguém, e logo após quebrar a cara. 

Eu assumo, sou algo confuso, difícil de entender, lidar e reconhecer. 

E as pessoas se deixam ser machucadas por pessoas que não são pra elas, e isso é um absurdo! 

São anos de trabalho árduo junto ao destino - aquele filho da puta barbudo e fedido à cigarros -, para achar um alguém compatível para cada pessoa na face da terra. Ele e sua esposa, Vida, são pacientes em juntar as peças, as movendo devagar em um meticuloso jogo de xadrez que é a vida de vocês, e vocês apenas cagam para o nosso trabalho! 

Sabem o quão terrível é ter de trabalhar com o Destino? Ele se acha o cara. 

Sendo que Eu que sou o cara. 

Fico muito puto com vocês, mas o que posso fazer? Como diz a Vida, eu sou jovem e devo ter paciência. 

( Ela também diz que eu tenho que parar de beber com o destino minutos antes de trabalhar pois sempre acabamos fazendo alguma merda, mas isso não vem ao caso. ) 

O que me resta é ter paciência e piedade com alguns, tipo aqueles que se metem em relacionamentos abusivos, e aqueles que perdem cedo seus companheiros por puro descaso do imbecil do destino ao dormir bêbado por cima do tabuleiro.

A esses eu reservo uma segunda chance. 

Duas.

Três.

Quantas necessárias. 

Apenas não tenho pena dos artistas...

Dos poetas, em especial.

Mas não me julgue! Se eu tivesse dó de algum, nenhum deles existiriam. 

Minhas tiranias são necessárias para que eles criem, e devo dizer... Quantas obras belíssimas! Adoro quando falam de mim, a maioria me desenha muito belo, e eu não posso negar que sou mesmo muito belo! Afinal, eu sou o Amor, nada mais adequado, não acham? 

Mas, de longe, os poetas que mais gosto é os que me pintam nu em pelo.

 Como verdadeiramente sou. 

E não algo como um genérico comercial de dia dos namorados, que nojo! 

A esses dou uma atenção especial, e digo que um dia, quando eu cansar de tortura-los, lhes dou o que há guardado na gaveta de minha mesa de trabalho. 

Cada um no seu devido tempo, terá de mim exatamente o que merece. 

Alguns, mais tortura! 

( É, eu não me canso disso. )

Outros... 

As suas pessoas. 

Ah, as vezes quando o Destino bebe de mais, eu consigo convencer ele a por mais cedo o amor no caminho de alguém, mas eu sempre tomo esporro da Vida por isso - por mais que eu saiba que ela também gosta de aprontar aqui e ali - é que eu gosto de ver as pessoas se foderem quando pensam que estão indo bem. Mas quem pode me culpar? Aposto que vocês também fariam algo do tipo se tivessem tais poderes em mãos. Irresponsável? Sim, claro, eu sei que sou. 

Mas também dou a mínima para isso. 

Eu sou o Amor, e com meus poderes faço deles o que bem entendo, apenas aceitem, mortais! 



Amor líquido

Amor líquido é eu lembrar de você a cada gole que tomo.

Amor líquido é eu ver seus olhos no fundo de cada copo que viro. 

Amor líquido é eu ter meus pensamentos em você mesmo em meus momentos de ressaca. 

Você é meu amor líquido... Ou melhor, minha decepção diluída em álcool.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Romance astral

A vida é casada. 

Com um moço à beira dos quarenta, barbudo e carrancudo. 

Chama-se Destino. 

Não é um casamento feliz, posso perceber. 

Mas fico feliz em saber que todos nós temos amores impossíveis.

Até mesmo o astro rei.

Deus foi misericordioso ao lhe conceder o Eclipse, para que ele voltasse a reencontrar sua amada Lua. 

Mas um raio não cai no mesmo lugar duas vezes, e eu sou a prova disso. 

A Vida, ainda mais. 

O amor da Vida, é seu total aposto.

Em número e grau. 

Não sei como funciona a realeza das forças superiores, mas é bem óbvio e fácil de deduzir que este é o amor mais impossível de todos. 

Talvez a Vida, amargurada como é, viva tramando junto ao Amor. Assim juntos colocam pessoas opostas no caminho uma da outra, na vaga esperança de que um dia alguém possa se sentir ao menos um terço de como ela se sente. 

Eu a entendo. 

Faria o mesmo se tivesse a chance. 

Fico feliz por ter sido a causa do reencontro. 

Deitada em meu leito, observo as duas forças descutirem ao meu respeito. 

A Vida, em toda sua glória, seus cabelos brancos brilham como uma benção do próprio sol, seus olhos escuros em uma eterna ferida que nunca se fecha. 

A falta que o seu amor faz. 

Vejo seu rosto enrubescido em raiva, diz que ainda não é a minha hora. Que tem tudo arquitetado. ( Suponho que seja rabisco mal feitos no livro da Vida, considerando o quão perturbada a minha própria vida é. )

A Morte está impassível, com as mãos nos bolsos de seu manto, seus cabelos negros como um céu estrelado, seus olhos em um branco cintilante. 

São conformados. 

Se conformou e aceitou as consequências das coisas que não tem controle. 

Como se apaixonar pelo mais belo dos seres.

E por ser seu total oposto, teve sua punição. 

Seres divinos não devem embarcar em romances astrais. 

Tudo conforme o que está escrito, cada qual com seu qual. 

A Vida e o Destino.

A Morte e sua eterna solidão.


Faz algumas horas que às vejo discutir. 

Pude fazer algumas suposições, e tomar minhas próprias conclusões. 

A Morte diz que ela está apenas dificultando seu trabalho, que teria que me levar logo, e não havia nada que pudessem fazer. 

Sua delicadeza ao escolher cada palavra dita, me faz acreditar que nem mesmo para ela aquele encontro era agradável. 

É certo, minhas escolhas me levaram até ali. 

Enchi a cara com tudo que encontrei, aceitei tudo o que me fora oferecido por não suportar ver o meu amor partir... Para os braços de um outro alguém. 

Tentei inutilmente parar um casamento, apenas para ser arrastada porta-afora pelos seguranças, sem ter a chance de chegar nem ao menos perto do altar.

Eu era um fracasso. 

Até mesmo em morrer. 

Minha overdose foi quase letal. 

Assim como eu quase consegui.

Quase.


A Vida se irritou, dizendo que eu fiz exatamente o qua a Morte deveria ter feito. 

Eu tentei. 

Com todas as minhas forças, eu tentei. 

Mas não há como lutar contra forças sobrenaturais.

Eu pensava isso até então. 

A Vida tem o olhar de uma criança, e as vezes age como. 

A Morte, não brinca em serviço. 

Tem a seriedade de quem sabe todas as perdas que teve, os péssimos trabalhos que teve que fazer. 

É um trabalho difícil, eu reconheço.

Ouvi as enfermeiras comentarem sobre uma criança que se foi na noite passada. 

Vítima de um câncer, a Morte lhe acolheu em seus braços após um Ceifeiro vir fazer seu serviço.

Ela apenas cuidava do restante. 

Estranhei o fato de nenhum anjo da morte ter vindo me buscar, mas entendi logo depois. 

A Vida se pôs em minha frente. 

"Sabe o que eu acho? Vocês deveriam parar, não vão chegar a lugar algum assim." 

Roubei a atenção, me olharam em surpresa. 

Se perguntando o quanto ouvi da conversa. 

Tudo.

"Você, moça, é uma filha da puta." Ainda se perguntavam se eu estava falando sozinha ou com elas, eu podia ver em suas expressões. "Acho que milhares de anos não lhe ajudaram nisso. O Tempo foi implacável com você, como é com todos nós, mortais. E como forma de vingança, você fode com a gente sempre que pode." 

"Poetas..." A Vida suspirou. "Havia me esquecido disso." 

"Percebo." A Morte acentiu, levantando sua foice. 

"Pare ai mesmo onde está, benzinho. Você é bem bonita, mas não faz o meu tipo. 
Estou a horas ouvindo a ladainha das duas, hora de ouvir a minha." 

Elas permaneceram estupefatas.

"Você, Vida, está me usando. Não tem porra de propósito nenhum. Eu sou um pretexto, para que você a encontre. 
A anos a Morte não desce à terra. Ela espera no portão, para isso ela tem seus soldados. 
Os vi ir e vir pelos corredores nas vezes que acompanhei minha mãe no hospital. 
São prepotentes. Vi um levar minha mãe consigo, sem acreditar que eu presenciava todo o processo... Mas não estamos aqui para falar disso. 

Talvez eu seja apenas uma louca em seu leito de morte, mas estou aqui assistindo uma D.R de dois seres que vão além da minha limitada compreensão. 

Vida, usou deste infortúnio para tentar matar a saudade que lhe consome. Após se cansar de ferrar com a vida dos outros. 

E onde está o amor? Foi pra casa do caralho.

Mande lembranças àquele filho da puta, estou livre de suas amarras, prestes a partir. 

Ele me jurou que seria condolente comigo, mas não o vejo fazendo isso. 

Ele apenas também me usou para o reencontro de vocês. 

Essa talvez seja a pior verdade, fomos nós três manipuladas. 

Por um único cara. 

Acabe logo com isso, Morte. 

Mas me façam um favor, a mim e todos os outros mortais, procurem o verdadeiro culpado para que não estejam juntas agora. 

Mas eu verdadeiramente acho que não há um culpado.

É de sua própria natureza. 

Como polos apostos de um ímã, acabam se repelindo em algum momento. 

Agora eu entendo. 

É como eu já havia lido; alguns amores são feitos para existir, não para acontecer."

Fechei os olhos em derrota, estava cansada. 

"Acabe logo com isso." Murmurei. 

O silêncio se instaurou entre nós até que a Vida se pronunciou para a Morte.

"A garota dela está na recepção, a decisão é sua."

A porta bateu, e eu não me lembro de muita coisa depois disso.




domingo, 21 de julho de 2019

Mudanças

A tempos eu já não sou mais a mesma, eu reconheço.

Costumávamos ser parecidas...  em alguns aspectos.

E, idiotas ao ponto, mantive esperanças de que você talvez pudesse se apaixonar pelo o meu novo Eu. 

Assim como fez com todos os outros.

Mas você já não é mais a mesma. 

E não costuma mais fazer a mesmas coisas.

Seu novo eu cansou de ter que se reinventar sempre que eu mudava, e assim, acompanhar minha mudança. 

Você cansou de alguém que mantia diversas faces, e de tantas mil maneiras que eu podia ser, apenas algumas você amava. 

Lembro do dia que me confessou odiar o meu Eu escritor, pois nunca sabia de quem se tratava o que eu escrevia. 
Odiava com todo o seu ser o fato de que nenhum texto parecia ser para você, e que cada eu lírico meu... 

Cada maldito Eu lírico meu, parecia estar apaixonado por um outro alguém. 

Que não era você. 

Que nunca era você.

Mas, meu bem, que grande equívoco o seu! 

Todo Eu lírico meu, é apaixonado por um alguém, que me remete algo seu. 

( Eu sei, sou babaca ao ponto. )

Seja seu riso escandaloso, mas que de um jeito estranho invade minha veias, e contagia todo o meu ser... Sua risada vibra em mim. 

Seja os seus olhos, que tudo esconde, poucas coisas me revelam e me intrigam sempre que podem. 

As curvas de sua pele, tais como as letras cursivas de minhas cartas...

Meu bem, um dia te disse que não havia um bar nessa cidade que eu não tenha falado de você. 

Hoje te digo que não há um único texto meu, que não tenha algo de você. Falando de você, ou para você. 

Mas hoje isso já não importa mais, você cansou dos meus Eus. Sejam eles líricos... Ou apenas Eu. 



quinta-feira, 11 de julho de 2019

Amnésia alcoolica


Numa das noites que sai para encher a cara o suficiente para não me afogar na minha saudade, pela primeira vez meu plano deu certo.

Mas o tiro saiu pela culatra.

Entrei em desespero ao descobrir que eu já não lembrava como era o seu toque, ou o cheiro do seu perfume... nem mesmo o gosto do seu beijo.

Fique desolada, pois na pressa em me livrar do incômodo em meu peito, te deixei cair em algum lugar no caminho.

Corri todo o percurso de volta, puxando na memória todos os momentos;

mas nada veio.

Eu me joguei nos braços do primeiro que apareceu, na vaga esperança de que aquilo de alguma forma me trouxesse de volta as lembranças, ou que me fizesse esquecer de vez.


No outro dia, lamentei com suspiros doloridos, perdida na minha ressaca


moral e de bebida.


As lembranças voltaram, e eu desejei com todas as forças...

Que apenas a enxaqueca me atormentasse naquela manhã.


Meus pedidos não foram atendidos, seja lá pra quem eu o fiz. 


É errado procurar nas outras pessoas um alguém que você sabe onde vai encontrar.

Mas oque posso fazer?


Me disseram que você mudou de endereço. 


Apaguei seu número. 


Não sei mais onde te encontrar, além das entrelinhas dos meus textos antigos.

Já amei alguem


Já amei alguém.

Já amei tanto alguém, que era como se meu mundo inteiro girasse em torno dela.

Já amei tanto alguém, que a simples menção do nome dela, me tirava dos eixos.

Já amei tanto alguém, que senti como se tivesse desaprendido a viver, e a agir, tal era a forma que eu me comportava quando se tratava dela.

Eu que sempre achei que tinha respostas para tudo, me via constantemente sem palavras, sem saber agir diante tais sentimentos.

Já amei alguém, por quem me tornei, de certa forma, irracional.

Era como se meus neurônios se tornassem água escorrendo por meus ouvidos enquanto eu me perdia na simples curva de um sorriso...

Já amei tanto alguém, ao ponto de sentir como se me seus ossos se partissem a cada despedida, em cada beijo de até logo, era como se fosse um adeus. Eu suspirava saudades por onde passava, e só me curava... Meus ossos só se curavam, quando recebia o abraço de Olá.

E era como se as coisas finalmente estivessem em seu devido lugar.

Eu me sentia mais em casa, dentro de um abraço de carne e ossos, que dentro do meu quarto de telhas e tijolos ao qual vivi minha adolescência inteira.

Eu tratava todas as despedidas como se fosse um adeus, tentava me preparar para quando realmente acontecesse.

Até que aconteceu.

E eu descobri que não há como se preparar para isso.

A gente pode até prever a chegada de um furacão, e suas dimensões.

Mas nunca vamos poder prever o que restará quando ele for embora.

Bem, não restou muito de mim desde que ela partiu.

( Apenas textos ruins como esse. )

Luau Atipico


Em um domingo qualquer, regado a tédio nicotina - é, isso mesmo... Tédio. Eu finalmente havia parado de beber. - encontrei um blog com diversos escritos enquanto zanzava sem rumo pela internet. 

Me impressionou o fato de que eu me perdia a cada palavra que lia... E te encontrava em cada verso. 

Passei a madrugada inteira lendo, e ao amanhecer, fingi que nada do que li havia me abalado, assim como eu fazia quando me traziam notícias suas. 

Quando me diziam que você estava bem, quando meu senso de ridículo falhava e eu perguntava por você... Meu cérebro repetia a resposta como um eco em uma sala vazia, e lá no fundo uma voz completava "sem você." 

Você sempre esteve bem, sem mim.

 E eu fingia estar bem, mesmo quando te via passar com um outro rapaz. 

Mesmo te vendo rir das bobagens de um outro alguém. 
As vezes eu me perdia no momento que seus olhos se fechavam em seu sorriso aberto, e no som da sua gargalhada, e me esquecia que aquele sorriso não era para mim. 

Mas me lembrava no momento seguinte ao ver braços fortes lhe rodearem... Braços que nunca seriam os meus.

Talvez eu devesse largar minhas tentativas falhas de textos bem sucedidos, e fazer um curso de teatro, algo do tipo que me levasse a ser uma atriz global... 

Mentir eu já sabia bem, mentir para mim mesma era o que eu precisava aprender.

Pois não importava o quanto eu dissesse, ou quanta convicção eu colocasse ao dizer que já havia superado, eu não podia te ver passar pela rua que meu coração... 
 Ah, essa coisa idiota composta por carne e músculos, fazia questão de jogar na minha cara todas minhas mentiras mal contadas. 
( Como se meus amigos do peito já não fizessem isso o suficiente. )

Eu gostaria de dizer que fui às 99 festas sem você, e que na centésima você apareceu, como diz um dos meus textos preferidos desses escritores de internet... 

Mas 99 festas ta longe de ser o que frequentei. 

Fui no máximo à umas 20, nunca tive saco pra isso. 

Mas bares? Fui à muitos, tantos que perdi a conta. 

Fui também à alguns eventos, aqueles pequenos eventos de cidades ao qual as pessoas costumam ir acompanhadas.
 
( E eu sempre estava bem acompanhada, por meus bons amigos e algumas garrafas de pinga. ) 

Fui também à diversos shows. Dancei sozinha, cai de bebada ao meio fio, ri com estranhos, cantei raggae pros cachorros da rua... Fiz tudo o que uma pessoa disiludida poderia fazer para tentar se divertir, e fiz tantas merdas quanto uma pessoa de coração partido faria. 

Era essa a questão, eu estava de coração partido. 

Mas nunca que iria admitir. 

( Preferia acreditar que você o levou consigo quando foi embora da minha vida. )


Estranhamente, em um rolê qualquer, atípico como só um luau em meio à uma terça-feira poderia ser, eu já me encontrava um pouco prá lá de bêbada, resmungando comigo mesma a ideia estúpida de ter saído de casa quando eu podia estar no conforto da minha cama, e não naquele frio dos infernos na maresia de Julho... você apareceu. 

Como eu disse, não foi na centésima festa. 

O abraço não fez doer as feridas... 

O abraço nunca veio, e as feridas já estavam todas saradas. 

Você simplesmente sentou ao meu lado na areia, bebeu do meu vinho direto do gargalo e me roubou alguns cigarros com propriedade que só você teria.

Descobri que éramos ótimas em fingir.

Você zombou de mim, disse que em meu último texto eu dizia que havia parado de beber, respondi que eu era reincidente, você disse que também era. 

Figimos que era da bebida que estavamos falando. 

Naquela noite nós fingimos muito.

Fingimos que não havia se passado meses que nos vimos, e que a última vez você não estava nos braços de um outro alguém. Fingimos que não fazia anos que o nós havia sido deixado para trás. 

Fingimos que não fazia muito tempo que não nos falávamos, que não haviamos concordado em um acordo silencioso sobre cortar o contato. 

Nos apenas bebemos, rimos, brincamos como a muito tempo não faziamos. 

Tomamos banho de mar, mesmo sem estar de roupa de banho, e o frio de Julho já não era tão incômodo. 

Entendi que todo aquele tempo foi necessário. Precisavamos lidar com a falta, cada um da sua maneira. 

Você com seus alguém, eu com meus versos e bebidas... cada um se matando da forma que bem entendia. 

Eu precisava daquilo. 

Precisava ser minha primeiro, para então pertencer a alguém. 

Precisava saber perder, para então ter alguém. 

Vi então, que o amor já não era lá uma necessidade, ter sua companhia já me era algo. Aprendi a me contentar com o pouco, para merecer ter o muito. 

E eu te tive. 

Te tive em minhas mãos e deixei escapar...

Mas aquela noite, era como se não pertencessemos a ninguém além de nós mesma. 

E pela primeira vez, em anos, um texto meu teve um final feliz. 

( Nem que tenha sido apenas por algumas horas. )

domingo, 30 de junho de 2019

Yasmin

Meu celular tocava irritantemente em algum lugar do meu quarto, saí do banho para procurá-lo, usando minha toalha de banho enrolada em meus cabelos, enquanto tomava cuidado para não escorregar.

A chamada foi perdida, na tela brilhava um número desconhecido com o DDD de outro estado, fiquei irritada com a possibilidade de ser apenas um número aleatório - daqueles que ligam e você passa minutos na linha e ninguém fala nada -, ter interrompido meu prazeroso banho de fim de tarde. 

Sai para minha varanda em busca de uma toalha no intuito de cobrir minha nudez. O vizinho, no auge dos seus dezessete anos, me olhou horrorizado por mais um vez me flagrar nua pelas janelas da casa.

Para minha sorte, ele era gay.

Bem, ao menos eu pensava. 

Ri da minha falta de senso de decência em desfilar pelada pela casa, mas o que eu podia fazer?  Eu estava na minha casa, e isso era de longe a melhor parte de morar sozinha. 

Meu celular voltou a tocar, o mesmo número de antes, atendi já preparada para escunlhambar quem quer que fosse do outro lado, mas fui impedida por uma voz que a semanas eu não ouvia.

"Yasmin, sua cachorra! Finalmente atendeu essa merda. Nem sei pra quê tem celular." 

"Dani, rapariga véia! O que diabos você aprontou agora?" Respondi fingindo preocupação. 

"Por que supõe que fiz algo?" Arrumei a toalha em meu corpo enquanto acendia um cigarro.

"Você sempre me liga pra contar as merdas que fez por Sampa."

"Dessa vez eu só estou com saudades mesmo. Que voz é essa de quem acabou de transar?" 

"Oxe, por que diz isso?" 

"Ta com um tom faliz de mais, eu te conheço." 

"Não posso apenas estar feliz em falar com a minha mana?" 

"Atabom. Desembucha."

Suspirei.

"To feliz. Descobri recentemente que minha ex ta namorando." Traguei forte obsevando o céu em tons pastéis.

"Oi? Não entendo o porque disso ser motivo de felicidade."

"Bem, talvez eu tenha sido uma cretina com ela."

"Cretina você é sempre. Explique o que fez dessa vez." 

"Ela ta namorando. Isso tira um peso enorme de minhas costas, uma vez que ela é uma boa garota, andava me sentindo meio para baixo...

Por ter sido uma completa idiota em embarcar em um relacionamento sabendo que não dou certo com namoros.

Por ter sido de certa forma, uma enorme babaca em ter alimentado os sentimentos de um alguém mesmo sabendo que eu nunca poderia corresponder da forma que ela esparava, ou merecia."

Uma melancolia me tomou junto a brisa fria que soprou, talvez fosse egoísmo da minha parte não se sentir tão feliz assim por ela, no fim das contas fiquei sem a afeição de alguém. As vezes é bom para o ego saber que alguém lhe ama. 

Mesmo que você não o faça de volta.

Denise se manteve em silêncio, acho que estava preparado o sermão, mas tive minha atenção roubada por braços rodeando minha cintura e beijos quentes em meu pescoço. 

"Sabe, Dani... Você tem razão."

"Eu sei que eu sou a dona da razão, mas eu nem disse nada ainda." 

"Eu estava sim, transado." Continuei. "E vou de novo, me ligue depois." 

"Tu ainda vai encontrar tua tampa, rapariga. E esse alguém vai te fazer pagar todas as tuas canalhices. Escreve!" Ri de sua praga, desliguei o telefone. Me virei pros olhos verdes que me encaravan curiosos e com um quê de desejo. 

Um dia eu largo mão de ser assim, mas esse dia não é hoje, obviamente. 

Hoje estou muito ocupada. 

( Mas, por vias das dúvidas, escrevi sim o que Danise me disse. )

Algoritmos

Você descobre que não tem mais jeito quando até mesmo o mundo virtual sabe quem é a sua pessoa e apenas você insiste em negar isso.

Você pode excluir ela do Facebook, 

Após um tempo ela vai aparecer como a primeira pessoa na lista de sugestões.

Você pode até cansar de vê-la também no topo da lista de visualizações em seus stories do instagram.

Você pode bloquiar, deixar de postar, deixar de seguir,

Mas um belo dia, quando você resolver deixar de lado essa besteira, e desbloquear a conta, ( ou as contas, dependendo do quanto você foi longe com tudo isso ) mesmo que você ainda não volte a seguir, ela aparecerá no topo da lista até mesmo para quem você vai enviar publicações quando resolve compartilhar algo nos stories.

É inútil fugir do óbvio
E arranjar sustificativas, tais como:

 Dizer que são os estúpidos algoritimos que insistem em lhe remeter perfis a quais você interagiu muito em algum momento da vida.

Ou pode dizer que é a vida e seus karmas.


Mesmo que seja a primeira opção, fora do meio virtual é igual dentro...

Você vai trombar com ela no ônibus indo para a faculdade, ou na fila do mercado.

 ( Mesmo que não morem no mesmo bairro. )

Algum amigo seu, vez ou outra vai trazer o assunto a tona, ou vai comentar sobre esse alguém. Amigo que você nem imaginava que conhecesse essa pessoas, mas o tanto de pessoas conhecidas em comum permitiu que isso acontecesse. 

Você vai encontrar esse alguém naquela festa qualquer no fim de samena, a qual você julgou não ser o tipo de ambiente que aquela pessoa frequentaria, mas já se passou tanto tempo que suas suposições a respeito já não lhe servem de nada, você perdeu aquele alguém, e se perdeu no processo...

Mas é triste saber que mesmo não conhecendo aquela pessoa, ainda conhece tanto dela.

Nota isso ao observar um velho hábito; 
Como rodear o copo com o dedo distraidamente antes de tomar a bebida, 

Ou quando alguém comenta um fato a respeito daquela pessoa, coisa essa que você pensa
"Eu sei, ela me contou, na época em que..." E tenta fugir do pensamento, como quem da murro em ponta de faca.


E, acaso for mais viável a segunda opção, ainda é válido que para isso você conversou muito com aquele alguém, nos mais diversos meios de comunicações

Desde mensagens de texto enviadas beirando o sono

Á ligações de horas a fio madrugada a dentro.


Você se desespera, ao perceber que mesmo que consiga fugir daquele alguém na vida real, e na virtual, o espiritual se encarrega de te perturbar mais um pouco.

E você sonha com ela, 

Até seu inconsciente busca pela pessoa, isso não é apenas em sonhos...

Você levanta a cabeça e olha procurando pela multidão, quando alguém louco o bastante para usar roupas parecidas com a sua pessoa passa por você.

Até que você percebe que não importa o meio; virtual, real, espiritual, e foda-se, qualquer um outro que exista

Não há como negar o óbvio

Não para si mesmo. 

( Ou você apenas se tornou alguém obcecado. )

Preciso, novamente, parar de beber.

domingo, 28 de abril de 2019

Trem desgovernado

A paixão veio forte, desenfreada, como um trem desgorvernado.

Você era o piloto, louco o suficiente para acelerar uma maquina sem freio em direção à uma encruzilhada.

E eu, inconsequente ao ponto, me joguei ao seu encontro.

( E o resultado não poderia ser menos catastrófico.)

O choque foi violento, me arremessou alguns metros longe...

e você  se destroçou.

( Há restos de mim em seus destroços... Ou do que eu costumava ser. )

sábado, 27 de abril de 2019

Anti-poético

Queria que sua partida tivesse sido poética.

Mas a sua falta não cabe num verso,
Nem mesmo num poema inteiro.

E eu não tenho palavras para a sua saudade,
Nem mesmo sei descrever sua ausência.

Apenas sei que dói, doeu.

E não ´nada lírico, passa longe de ser poético.

( Ainda reside em mim alguns vazios teus. )

Queria que fosse poético, por um instante realmente desejei...

Mas não passa de um sentimento masoquista, que me torturo em pensar por horas a fio.



Voltei a beber.

No verso das suas cartas

"Eu não estou pronta para manter nenhum contato com você.

Não quando a memória do nós ainda está aqui, fresca em minha mente.

Talvez, daqui a um tempo eu seja capaz.

Quando você já não significar tanto, quando a simples menção do seu nome não me causar conflitos internos.
Quando a nossa música tocar no rádio e não me despertar nenhuma nostalgia ou angustia letárgica.

Talvez quando a ferida não estiver tão exposta, sangrando  cada vez que respiro.

Quem sabe quando eu te ver passar por mim na rua e meu coração não errar nenhuma batida ao reconhecer a quem ainda pertence.

Tenho certeza que serei capaz de permitir que mantenhamos ao menos uma amizade quando você já não for a minha pessoa, e esse espaço estiver sendo ocupado por outro alguém...

Por mim mesma, quem sabe.

Até lá, irei fingir que não te conheço quando nosso horários forem covenientes o bastante para fazer com que a gente se esbarre pela avenida.

Vou fingir que nunca ouvi seu nome antes, quando alguém perguntar se eu te conheço.

Vou fazer pouco caso quando perguntarem do término.

Vou fingir que não foi importante,

Espero que não se importe."



( Você tinha razão, eu não sei mentir. )

Hoje eu vi você


Por todo o tempo em que estivemos no mesmo ambiente...
Me senti observada.

De forma discreta.

E por mais que meu coração traidor me importunasse o juízo, de forma que eu me sentisse tentada a devolver o olhar...

( O suposto olhar. )

Eu não consegui.


Hoje eu vi você


Tão diferente do que eu conhecia
Sua energia vibrando em ondas que não reconheci.

Mas fiquei feliz.

Por serem melhores do que as que eu já estive em sintonia.


Hoje eu vi você

E fiz de tudo para não olhar na direção em que você estava.
Fiz de tudo para não focar o olhar em você.
Pois nos míseros segundos em que meu cérebro processava a informação das suas mudanças,

Quando vi você,

Alguns sentimentos,
Que há um tempo eu jurei ter engolido junto à algumas doses amargas,

Voltaram com tudo para a minha garganta.

E todo o tempo que passei evitando te olhar,
foi para tentar engolir de volta.

Pois é.

Eu não consegui.

Por isso vomito todos eles aqui.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

As coisas que me pergunto

Do que restou depois de tudo:
As coisas que eu me pergunto.

O que estou fazendo da minha vida ?

Sempre me pergunto
Ao ver pela metade
O terceiro cigarro
Da primeira carteira

O que estou me tornando ?

Me pergunto
Ao esvaziar
O terceiro copo
Da única garrafa
Que me sobrou

Quando foi que me perdi ?

Me pergunto
Ao rolar as músicas
Da play list
Que jurei
não voltar a ouvir

Como fui me deixar chegar a este estado ?

Me pergunto
Ao abrir um chat qualquer
De um alguém qualquer
Que pouco se parece
com você

O que estou fazendo aqui?

Me pergunto
Ao sentar no sofá da sala
Que não tem
as mesmas cores na parede
Da sua

Quando é que isso acaba ?

Me pergunto
Ao sentir os apertos
Das mãos firmes
Que não são as suas
Trêmulas

Quando me darei por satisfeita ?

Me pergunto
Ao passar pela porta
A qual eu não deveria ter entrado
E
Que
Certamente
não é a da sua casa

Quantas vezes mais isso vai se repetir ?

Me pergunto
Logo após me despedir
Olhando nos olhos
Que
obviamente
não são os seus

Em meio a rua

Me permito
Pensar

Um pouco

Um trago

Um suspiro

Quando vou conseguir seguir ?

Já não sei mais
A quem eu pergunto

Só então me dou conta
Que o caminho
Que estou seguindo
Com toda certeza

Não me levará até você

( É, nunca fui de prestar atenção por onde ando)



quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Você me embriagava






Foi lá pela quarta ou quinta lata de cerveja
Em uma festa qualquer durante o carnaval
Que me peguei lembrando de você.

E foi na terceira dose de Whisky que constatei que minhas comparações eram ridículas,
Mas faziam sentido.

Na minha cabeça, claro.

É, talvez eu já estivesse bêbada.

( Só talvez. )

De alguma forma, as bebidas me faziam lembrar bastante você.

E eu parei para analisar;

A forma que você me aquecia por dentro
E me deixava com o pensamento leve
E o corpo relaxado

Muito se assemelha ao Whisky.

Ou como um único beijo seu
Me deixava levemente embriagada,
E suas palavras atravessadas
Me deixavam com um incômodo na garganta

Eram como uma dose de aguardente.

Seu sorriso tinha os mesmo efeitos
Das batidas e caipirinhas

Me contagiavam e me deixavam alegre...

Mas apenas quando a garrafa do Pérgola estava pela metade,
Quando eu já me encontrava em casa
Remoendo minhas mágoas,
No conforto da minha varanda,
Que me dei conta

Que talvez eu tivesse passado da conta.

Mas como uma boa alcoólatra,
Treinada em madrugadas solitárias,
Não iria desperdiçar
Meio litro do meu vinho preferido.

( Não era eu que costumava deixar as coisas pela metade. )

Engoli tudo em tempo recorde, assim como fiz com as dores que você me provocou.

Então parei para pensar

Sobre a maneira que o vinho, assim como você,
Me incendeia e depois esfria.
Faz com que a chama exploda
Ecloda,
Perdure pelo que restou da noite,
Mas sempre acaba se apagando,
Esfriando,

E me deixando.

E na manhã seguinte,
Tudo que me resta

É uma terrível ressaca.

E foi quando meu estômago revirou
E minha cabeça rodou,
Que percebi
Que de fato,

Misturar bebidas não é algo sensato.


E senso nunca foi meu ponto forte.

Preciso parar de beber.

domingo, 13 de janeiro de 2019

Sepulcral



Em uma semana te escrevi uma carta
Nessa mesma semana bebi uma vodca barata
Nesse meio tempo perdi a conta de quantas vezes te encontrei
E de quantas vezes me perdi

Não há nada para ser feito agora
Promessas quebradas juntos às garrafas vazias
Todo os restos do que já fomos um dia
Apenas memórias de uma mente pertubada
Cacos de uma pessoa quebrada
Dando tudo de mim até quando não me resta nada
Apaguei seu número e rasguei os poemas
Nada me ajuda a enfrentar esse meu dilema

Então eu sento no escuro
Deito e abraço os pedaço de mim
Tudo um dia chega ao fim
Álcool, niconita 
Insulina

Intorpecida com os próprios sentimentos
Eu me sufoco com tudo que eu não te disse
E eu bebo, bebo e bebo
Até que a bebida se torne gastrite
Mas isso não cura os nossos corações
E eu fumo, fumo e fumo
Até que eu precise de novos pulmões

Querida
Eu apenas lhe peço um favor
Se em seu peito ainda lhe restar amor
Se eu morrer de overdose, suicídio, ou 
Sufocada pelas palavras em minha garganta
No dia da cremação
Não jogue rosas em meu caixão
Jogue o que restou do destilado
E acenda o fogo
Com meu último cigarro