quinta-feira, 11 de julho de 2019

Luau Atipico


Em um domingo qualquer, regado a tédio nicotina - é, isso mesmo... Tédio. Eu finalmente havia parado de beber. - encontrei um blog com diversos escritos enquanto zanzava sem rumo pela internet. 

Me impressionou o fato de que eu me perdia a cada palavra que lia... E te encontrava em cada verso. 

Passei a madrugada inteira lendo, e ao amanhecer, fingi que nada do que li havia me abalado, assim como eu fazia quando me traziam notícias suas. 

Quando me diziam que você estava bem, quando meu senso de ridículo falhava e eu perguntava por você... Meu cérebro repetia a resposta como um eco em uma sala vazia, e lá no fundo uma voz completava "sem você." 

Você sempre esteve bem, sem mim.

 E eu fingia estar bem, mesmo quando te via passar com um outro rapaz. 

Mesmo te vendo rir das bobagens de um outro alguém. 
As vezes eu me perdia no momento que seus olhos se fechavam em seu sorriso aberto, e no som da sua gargalhada, e me esquecia que aquele sorriso não era para mim. 

Mas me lembrava no momento seguinte ao ver braços fortes lhe rodearem... Braços que nunca seriam os meus.

Talvez eu devesse largar minhas tentativas falhas de textos bem sucedidos, e fazer um curso de teatro, algo do tipo que me levasse a ser uma atriz global... 

Mentir eu já sabia bem, mentir para mim mesma era o que eu precisava aprender.

Pois não importava o quanto eu dissesse, ou quanta convicção eu colocasse ao dizer que já havia superado, eu não podia te ver passar pela rua que meu coração... 
 Ah, essa coisa idiota composta por carne e músculos, fazia questão de jogar na minha cara todas minhas mentiras mal contadas. 
( Como se meus amigos do peito já não fizessem isso o suficiente. )

Eu gostaria de dizer que fui às 99 festas sem você, e que na centésima você apareceu, como diz um dos meus textos preferidos desses escritores de internet... 

Mas 99 festas ta longe de ser o que frequentei. 

Fui no máximo à umas 20, nunca tive saco pra isso. 

Mas bares? Fui à muitos, tantos que perdi a conta. 

Fui também à alguns eventos, aqueles pequenos eventos de cidades ao qual as pessoas costumam ir acompanhadas.
 
( E eu sempre estava bem acompanhada, por meus bons amigos e algumas garrafas de pinga. ) 

Fui também à diversos shows. Dancei sozinha, cai de bebada ao meio fio, ri com estranhos, cantei raggae pros cachorros da rua... Fiz tudo o que uma pessoa disiludida poderia fazer para tentar se divertir, e fiz tantas merdas quanto uma pessoa de coração partido faria. 

Era essa a questão, eu estava de coração partido. 

Mas nunca que iria admitir. 

( Preferia acreditar que você o levou consigo quando foi embora da minha vida. )


Estranhamente, em um rolê qualquer, atípico como só um luau em meio à uma terça-feira poderia ser, eu já me encontrava um pouco prá lá de bêbada, resmungando comigo mesma a ideia estúpida de ter saído de casa quando eu podia estar no conforto da minha cama, e não naquele frio dos infernos na maresia de Julho... você apareceu. 

Como eu disse, não foi na centésima festa. 

O abraço não fez doer as feridas... 

O abraço nunca veio, e as feridas já estavam todas saradas. 

Você simplesmente sentou ao meu lado na areia, bebeu do meu vinho direto do gargalo e me roubou alguns cigarros com propriedade que só você teria.

Descobri que éramos ótimas em fingir.

Você zombou de mim, disse que em meu último texto eu dizia que havia parado de beber, respondi que eu era reincidente, você disse que também era. 

Figimos que era da bebida que estavamos falando. 

Naquela noite nós fingimos muito.

Fingimos que não havia se passado meses que nos vimos, e que a última vez você não estava nos braços de um outro alguém. Fingimos que não fazia anos que o nós havia sido deixado para trás. 

Fingimos que não fazia muito tempo que não nos falávamos, que não haviamos concordado em um acordo silencioso sobre cortar o contato. 

Nos apenas bebemos, rimos, brincamos como a muito tempo não faziamos. 

Tomamos banho de mar, mesmo sem estar de roupa de banho, e o frio de Julho já não era tão incômodo. 

Entendi que todo aquele tempo foi necessário. Precisavamos lidar com a falta, cada um da sua maneira. 

Você com seus alguém, eu com meus versos e bebidas... cada um se matando da forma que bem entendia. 

Eu precisava daquilo. 

Precisava ser minha primeiro, para então pertencer a alguém. 

Precisava saber perder, para então ter alguém. 

Vi então, que o amor já não era lá uma necessidade, ter sua companhia já me era algo. Aprendi a me contentar com o pouco, para merecer ter o muito. 

E eu te tive. 

Te tive em minhas mãos e deixei escapar...

Mas aquela noite, era como se não pertencessemos a ninguém além de nós mesma. 

E pela primeira vez, em anos, um texto meu teve um final feliz. 

( Nem que tenha sido apenas por algumas horas. )

Nenhum comentário:

Postar um comentário