Meu celular tocava irritantemente em algum lugar do meu quarto, saí do banho para procurá-lo, usando minha toalha de banho enrolada em meus cabelos, enquanto tomava cuidado para não escorregar.
A chamada foi perdida, na tela brilhava um número desconhecido com o DDD de outro estado, fiquei irritada com a possibilidade de ser apenas um número aleatório - daqueles que ligam e você passa minutos na linha e ninguém fala nada -, ter interrompido meu prazeroso banho de fim de tarde.
Sai para minha varanda em busca de uma toalha no intuito de cobrir minha nudez. O vizinho, no auge dos seus dezessete anos, me olhou horrorizado por mais um vez me flagrar nua pelas janelas da casa.
Para minha sorte, ele era gay.
Bem, ao menos eu pensava.
Ri da minha falta de senso de decência em desfilar pelada pela casa, mas o que eu podia fazer? Eu estava na minha casa, e isso era de longe a melhor parte de morar sozinha.
Meu celular voltou a tocar, o mesmo número de antes, atendi já preparada para escunlhambar quem quer que fosse do outro lado, mas fui impedida por uma voz que a semanas eu não ouvia.
"Yasmin, sua cachorra! Finalmente atendeu essa merda. Nem sei pra quê tem celular."
"Dani, rapariga véia! O que diabos você aprontou agora?" Respondi fingindo preocupação.
"Por que supõe que fiz algo?" Arrumei a toalha em meu corpo enquanto acendia um cigarro.
"Você sempre me liga pra contar as merdas que fez por Sampa."
"Dessa vez eu só estou com saudades mesmo. Que voz é essa de quem acabou de transar?"
"Oxe, por que diz isso?"
"Ta com um tom faliz de mais, eu te conheço."
"Não posso apenas estar feliz em falar com a minha mana?"
"Atabom. Desembucha."
Suspirei.
"To feliz. Descobri recentemente que minha ex ta namorando." Traguei forte obsevando o céu em tons pastéis.
"Oi? Não entendo o porque disso ser motivo de felicidade."
"Bem, talvez eu tenha sido uma cretina com ela."
"Cretina você é sempre. Explique o que fez dessa vez."
"Ela ta namorando. Isso tira um peso enorme de minhas costas, uma vez que ela é uma boa garota, andava me sentindo meio para baixo...
Por ter sido uma completa idiota em embarcar em um relacionamento sabendo que não dou certo com namoros.
Por ter sido de certa forma, uma enorme babaca em ter alimentado os sentimentos de um alguém mesmo sabendo que eu nunca poderia corresponder da forma que ela esparava, ou merecia."
Uma melancolia me tomou junto a brisa fria que soprou, talvez fosse egoísmo da minha parte não se sentir tão feliz assim por ela, no fim das contas fiquei sem a afeição de alguém. As vezes é bom para o ego saber que alguém lhe ama.
Mesmo que você não o faça de volta.
Denise se manteve em silêncio, acho que estava preparado o sermão, mas tive minha atenção roubada por braços rodeando minha cintura e beijos quentes em meu pescoço.
"Sabe, Dani... Você tem razão."
"Eu sei que eu sou a dona da razão, mas eu nem disse nada ainda."
"Eu estava sim, transado." Continuei. "E vou de novo, me ligue depois."
"Tu ainda vai encontrar tua tampa, rapariga. E esse alguém vai te fazer pagar todas as tuas canalhices. Escreve!" Ri de sua praga, desliguei o telefone. Me virei pros olhos verdes que me encaravan curiosos e com um quê de desejo.
Um dia eu largo mão de ser assim, mas esse dia não é hoje, obviamente.
Hoje estou muito ocupada.
( Mas, por vias das dúvidas, escrevi sim o que Danise me disse. )
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