No bar chamado Karma, cheguei pra lá da tarde. Cheio de muitos outros como eu, cada um com suas lamentações. Romeo e toda sua pomposa paciência sempre tirando proveito da situação, folheando uma caderneta, anotando as grandes dividas, recebendo pagamento com histórias e lágrimas como gorgeta.
Tranquila cheguei e me sentei próximo daquele filha da mãe, cafetino dos amargurados.
( Apelido carinhoso, obviamente. )
Bati no balcão, pedi a bebida mais amarga que ali tivesse, virei um copo.
Tossi como se tivesse engolido a droga de uma lagarta de fogo.
Romeo até ensaiou um sorriso, quase louco ao ponto de mangar de mim. Desistiu no caminho.
Encheu meu copo, bebi a metade querendo cuspir, deixei de lado.
Ele apenas suspirou, com aquela cara mulquirana de quem não ia desperdiçar.
Bebeu o que sobrou da dose, e se serviu de mais dois quartos.
Tive ódio do filha da puta, para ele parecia tão fácil...
"Não é a primeira desilusão que bebo, de certo não vai ser a última." Respondeu tranquilo, voltado às suas contas.
"Já bebeu tanto assim? Ao ponto de se tornar indiferente?" Perguntei sem conseguir segurar o espanto.
"Para isto? Nunca é o bastante. Mas o que eu já bebi foi o suficiente para me abtuar aos queimores de quando desce, e ao bile quando sobe. Já não vômito mais, engulo tudo outra vez, e bebo mais um pouco. Temo que nem mesmo se eu bebesse todas as desilusões do mundo eu me tornaria indiferente.
Ninguém se torna, não há como.
Não importa quanta vezes você apanhe, com o tempo os ossos endurecem, os músculos caliçam.
Mas ainda vai doer.
Por vezes um pouco menos, por vezes um pouco mais.
Nunca anestésico. "
"Tantos amores no currículo deveria me servir de algo, ao menos." Resmunguei ainda inconformada.
Romeo sorriu, e me serviu mais um copo.
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