domingo, 19 de abril de 2020

Arthur

Talvez eu tenha percebido
Tarde de mais
Que algumas coisas ficaram pelo caminho
Ali, para trás

Talvez eu tenha me atentado
Pouco, aos fatos 
E esquecido meu relógio
Em algum canto, largado 

Juntos aos poucos pedaços
Rasgados 
Do lembrete que posesse na mesa 
Mas num ato de descuido, acaso 
Derramei meu café 

Por cima dos meus versos 
Diversos, nas rimas da canção 
Na minha carta escrita a mão 
Tinha tudo que precisava saber 

É que sou desastrado 
Jogo tudo pro alto 
E não me importo se está bagunçado 
Nosso recanto ou nós mesmos

Nesse espelho quebrado 
Em tantos cacos quanto o meu coração
Você foi embora, e de antemão 
Deixou-me livre para lembrar sozinho 

Onde diabos pus o meu relicário 
Com tanto amor me desse
Junto a um afago no peito 
Disfeita que fiz, por algo sem preço

Hoje me custa até de mais
Queima, sem jeito 
Em saudade meu peito 
Com tudo que você me deu 

Mesmo sem esperar, em troca 
Tivesse um caso 
Rápido, em segredo 
Quando merecia bem mais 

Que um amante imperfeito.

Vá embora.

Mas não te deixarei levar o disco que te dei
Aquele da capa rasurada e um pouco riscado de tanto tocar
Que encontrei
Mofado, num sábado
em um sebo na beira mar
Junto ao seu livro de cabeceira

Leve apenas o livro, é mais fácil de explicar.

Não te darei o disco do Bon Jovi,
Por uma pirraça qualquer, implica, ou desejo de te poupar algumas situações estranhas, 

quando você tiver que explicar a um outro alguém sobre ser tão protetora com um objeto, porque diabos abraça ao peito, fecha os olhos e treme o queixo, junto ao tom...

como se a música transmitisse cor e cheiro além do som.

Mas sendo implicante a altura, algo meu escondido levaria.

Sei que é meu disco, preferido, que já procurei em todo lugar
Você guardou, escondeu, desde a última festa que tivemos em casa 

Só não me disse onde 
Não me disse como
Apenas disse que não lembra 
E que se lembrar não vai falar

Mas eu sei, que levará consigo, meu Belchior preferido 
E que nem mesmo vai por pra tocar.

Na espera que eu bata na sua porta 
Tendo esse pretexto, com o coração na mão e mil textos

Indo em busca do que é meu.

E eu já não sei do que eu falo, de livros, de textos, discos ou

Você e eu.