segunda-feira, 15 de junho de 2020

Poucas coisas que me restam.

Do nós
Gostaria que tivesse restado um pouco mais
Que bitucas no cinzeiro do meu criado mudo
Batom na gola da minha camisa branca
Os tantos arranhões em minha pele
Assim como tantas outras decepções

Mas não há coração que suporte inconstância
As minhas misturadas com as suas 
Desejo de mudança
E azar de recaída 
Sobrou perfume na minha jaqueta 
Alguns itens seus na minha gaveta 
Os quais não sei se virá buscar 

Junto com um gole de vinho
E um último beijo 
Você levantou coberta de razão e meu lençol
Deixou tudo no chão aos paços do banheiro 
Um banho rápido dispensando minha companhia 
Caminhou porta afora 
E eu soube no mesmo instante
Que você não voltaria 

Minhas mensagens ficaram sem respostas
Assim se foram os últimos dias 
O cheiro do outono permanece 
Assim como a falta de algo que me aquece 
Nunca te esperei para o jantar
E você apenas segue
E se esquece
Do quão bom foram aqueles velhos dias 

Resta a saudade 
Somada aos velhos medos
Talvez você espalhe os nossos segredos 
Assim como meus poemas em guardanapos e velhos papéis
Um dia eu te encontro por ai
No caminho de alguns bordéis
No banco da praça ou no bar do Zé 
Andando a pé
Paços largos pela noite
Procurando alguém que te dê alguns momentos torpes 
De sentimentos 

Mas eu lamento
Se algum dia deixei de te oferecer o que precisava 
Mais um amante ou duas garrafas 
Daquela cachaça do interior
Mas amor, não seja assim
Ao menos um pouco 
Lembre de mim 
Ou venha buscar tudo que deixou aqui 

Você me deve um adeus 
Mas compreendo se não quiser me dar
Entenderei que tudo não passou de um até logo
E que em breve 
Você irá voltar 
Para balançar a minha cama, minha cabeça e minha vida pôr fora do lugar

Não era aqui que eu deveria estar 
Mas espero
E mesmo que você não venha e que não queira mais me olhar 
Nos olhos
Com um sorriso simplório
Esperando que eu entenda onde você quer chegar 

Fuja, vá além
Um outro amor em breve vem 
Mas esteja certa de que
Nenhum será capaz de tomar o seu lugar



Recife

Ponha assunto na mesa, encha meu copo.
Me de um pouco mais do seu último beijo,
Me leve meu último cigarro,
Mas me leve no peito.
Tão perto 
Que eu não tenha que esperar o próximo.
Alguém que seja capaz de me roubar algo,
Como a noção, ou o fôlego
Assim como você o faz.
Saiba que é carnaval.
Fevereiro, mês que espero o ano inteiro.
Acima de tudo é Recife.
E justamente por ser Recife,
Que assim como todo carnaval tem risco de chuva,
todo amor há risco de não ser o certo.